Vasco Trilla | improfe.stream
29/01/2021
VASCO TRILLA
Portugal-Catalunha
O Thriller Chega à Cidade
O que define uma performance bem-sucedida em improvisação livre? Seria o nível de empatia entre os músicos — esse diálogo delicado feito de gestos não ditos e escuta atenta? Seria a sinergia inexplorada que emerge quando um pequeno grupo de improvisadores se funde em uma voz coletiva? Ou talvez seja simplesmente o domínio do ofício — porque quando se pode tocar qualquer coisa, o desafio passa a ser saber o que se deseja tocar.
No caso do baterista, percussionista e improvisador português-catalão Vasco Trilla, a resposta parece estar em uma tríade de forças: imaginação, experiência transgênero e, acima de tudo, disciplina.
E disciplina, no caso de Trilla, não é pouca coisa. Em apenas três semanas, entre setembro e outubro de 2016, ele passou por uma intensa turnê: Polônia (Bydgoszcz, Gorzów Wielkopolski, Poznań, Cracóvia), depois Hungria, Sérvia e Bulgária — tocando com diferentes músicos em quase todas as cidades. Isso não é só uma turnê; é um laboratório vivo de experimentação sonora.
Se a imaginação na improvisação é moldada por vivências musicais, então Trilla é um verdadeiro caso de estudo. Suas raízes se espalham por uma gama impressionante de gêneros:
Ethno-jazz? Boi Akih
Avant rock? October Equus
Jazz-core? Outerzone
Jazz-rock progressivo? Planeta Imaginario
Black metal? Triplezero
E claro, a música improvisada, onde ele floresce em formações sempre mutantes:
Duos com Yedo Gibson, Johannes Nästesjö ou Mikołaj Trzaska
Trios com Susana Santos Silva & Kaja Draksler, Piotr Mełech & Jacek Mazurkiewicz ou Rafał Mazur & Michał Dymny
Quartetos como o com Iván González, Fernando Carraco e Àlex Reviriego
E isso é apenas uma fatia do que ele realizou nos últimos 24 meses.
Há ainda sua obra solo, como nos álbuns The Suspended Step e The Rainbow Serpent (Spontaneous Music Tribune). Essas gravações revelam a verdadeira alquimia de ideias de Trilla — uma teia intricada de técnicas, texturas e um profundo conhecimento prático (sim, incluindo física: como o som se move e se transforma no espaço). Suas performances solo são acústicas, mas a sonoridade frequentemente se aproxima do universo da eletrônica progressiva: sombria, sussurrante, misteriosa — ecos do seu passado no black metal.
Há momentos em que juramos ouvir um violino, ou um pulso rítmico, ou uma melodia meio oculta — mas o instrumento em questão está ausente. Tudo está na imaginação, no timbre, na ambiguidade intencional entre categorias. Um dos dons mais singulares de Trilla é sua capacidade de multiplicar vibrações, transformando objetos do cotidiano em portais de ressonância. Como ele mesmo admite, está “obcecado” com isso: tudo o que toca é imediatamente testado por seu potencial sonoro.
Com sua bateria, Trilla busca tanto a melodia quanto o ruído, navegando um território infinito de microgestos e técnicas expandidas. Sua arte convida o ouvinte para uma narrativa textural e focada — que recompensa a paciência, a escuta atenta e o ouvido afinado para o imprevisível.
Vasco Trilla é um cidadão do som. Um catalão nascido do mundo, que se apresenta e grava em todos os continentes, dia após dia, hora após hora. Cada encontro, cada colaboração, adiciona mais uma camada à paleta de um músico para quem a improvisação não é apenas um método — mas uma filosofia.